#5 – Ode à Lágrima

Não sei quantas vezes
fui mal quisto e mal amado.
Tento esquecer e
percebo que não tem como
eu lembrar de todas as vezes
que isso aconteceu.

Tento pensar no porquê
e ouço o que disseram:
“Você é um lixo”
Tentei deixar de existir,
mas não gostei de como foi.
Tentei ser imperceptível,
mas vieram me caçar.
Não busco um lugar,
busco uma saída.

Começo a chorar
e, para ver quanta água saí,
eles continuam a zuar.
Fiquei puto e engoli o choro.
Tranquei os joelhos para trás,
prendi a respiração
e desacelerei.
Deixei o carro morrer.
Agora, tenho rinite.

Minha pele arde
por causa do atrito
com um mundo que não me quer.
Queima um fogo que ninguém vê.
Só enxergam “pele suja”
e me julgam monstruoso.

Careço de Carinho
e só Quem me enxerga
é o Carcereiro.
Pra dizer que a Culpa é minha
E, tolo esperançoso, pergunto:
Cadê o Curandeiro?

Me jogaram no ralo
e vivo no bueiro.
A dermatite coça,
mas pelo menos daqui
não os vejo.
Preciso de cuidado
e nem isso eu tenho.
A dor é eterna,
não passa,
mas melhora quando aceita.

A lágrima brilha como diamante
e eu quero ser rico.


Busco olhar como vivem as pessoas parecidas comigo e quando vejo, fico chocado. Não consigo ignorar a quantidade de homens pardos violentados pelos grilhões racista das prisões. Não consigo ignorar a quantidade de bissexuais com depressão e ideação suicida por causa das várias violências LGBTfóbicas sofridas no cotidiano. Gostaria de ter um caminho mais calmo, certo e seguro, mas isso não é uma possibilidade para pessoas pardas e bissexuais dentro nesse mundo separatista.
Nascido no limbo racial, me esforcei para ser mais um bissexual invisível e foi assim que sobrevivi a infância e a adolescência. Eis agora o momento em que não funciona mais tentar viver nas sombras, daqui pra frente, só dá pra viver se for com a cara no sol, mas é preciso cuidado para não se queimar. Sempre bom lembrar: A vida é maior do que aquilo que já foi vivido.
Por ser piracicabano, cresci ouvindo a música Rio de Lágrimas, aquela que diz “O rio de Piracicaba, vai jogar água pra fora, quando chegar a água dos olhos de alguém que chora”. É curioso como a tristeza, melancolia e saudade fazem parte da cultura caipira. Muitas das músicas sertanejas mais antigas falam sobre a tristeza nos sertões. Deve ser por isso que desenvolvi um certo apreço pela tragédia, pois sentimentos difíceis de lidar – como a separação amorosa, a morte de um ente querido, a saudade da terra natal – foram muitas vezes apresentados de forma bela nas artes caipira.
Em um mundo de farsa da felicidade, sei que é contramão andar de braços dados com a melancolia, mas admito que não gosto da ideia de negar sentimentos que considero alinhados com o momento triste que vivemos nesse planeta. De toda forma, a melancolia não é eterna. Gosto de entender a vida como um pulsar de humores, onde a tristeza existe tanto quanto a alegria, embora a última seja mais legal.

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