O processo de escolha das fontes para o livro Seleção Tipográfica, de Mary Vonni Meürer

Eduardo Cazon, 2022

Comecei o processo de seleção tipográfica lendo o material complementar e o modelo expandido. Por ser um livro sobre seleção tipográfica, a tipografia utilizada deve ressaltar a importância da seleção de fontes nos textos e como isso afeta a comunicação verbal da obra, reforçando a coerência entre conteúdo verbal e visual do livro. Para isso, empregamos diversas tipografias ao longo da obra, estimulando quem lê a perceber a diferença entre as fontes usadas. Cada capítulo foi composto em um estilo tipográfico diferente, assim é possível ter uma experiência de texto imersiva com cada estilo.

A obra trata do processo de decisão relacionado à escolha de fontes para o design da informação. É uma publicação que propõe questões sobre a escolha de fontes. O texto tem capítulos, intertítulos, citações, notas de rodapé, balões de comentários nas figuras, legendas, glossário e bibliografia. É uma pesquisa recente e está sendo publicada em livro pela primeira vez. Essa leitura estimula a observação mais atenta a detalhes da tipografia que muitas vezes não nos damos conta, então o livro pode gerar uma sensação de curiosidade e descoberta ao passarmos a ver coisas que antes eram quase invisíveis, como os detalhes da tipografia. O conteúdo é uma pesquisa acadêmica que passou por uma adaptação para se tornar um livro, com linguagem mais acessível e sem alguns requisitos de formatação e escrita acadêmica.

O público de leitores que esperamos atingir são profissionais da comunicação visual, professores e estudantes. De modo geral, são pessoas com um bom contato com textos e publicações da área. Para essas pessoas, a publicação pode ser um livro que se consulta em situações desafiadoras, onde conseguem revisar como escolher fontes, uma situação muito particular dessa produção, onde as fundições podem se beneficiar de uma parceria, ao mostrarem seu produto a seu público.

A publicação será impressa por meio digital, então as restrições técnicas são poucas. É interessante que as tipografias tenham sido projetadas para esse fim. A princípio, selecionaremos fontes nacionais e/ou da América Latina.

Como o objetivo era ter estilos tipográficos visivelmente distintos, estudei classificação tipográfica para identificar fontes que possuem características exemplares de um estilo, bem como procurei selecionar estilos díspares, onde a diferença entre eles não fossem sutil, para evidenciar a mudança de fonte entre os capítulos, a começar pela presença e ausência de serifas. Dessa forma foram selecionados os estilos:

  1. Sem serifa Geométrica: formas geométricas, sem modulação e eixo vertical.
  2. Sem serifa Humanista: formas caligráficas, modulação moderada e eixo inclinado.
  3. Sem serifa Transicional: mistura de formas geométricas e orgânicas, baixa modulação e eixo variável.
  4. Serifa Slab: serifa pesada quadrada, cor escura, forma racionalista.
  5. Serifa Contemporânea: serifa estilizada, formas desenhadas mas não caligráficas.
  6. Serifa Transicional: serifa orgânica, cor clara, forma clássica como referência.

Também foi selecionado outro tipo de fonte, mas nesse caso foi pelo aspecto técnico. Procurei tipografias condensadas, feitas para ter alto rendimento de caracteres por linha, facilitando a composição de colunas estreitas, como legendas, comentários e texto em coluna dupla para o glossário.

Assim que decidimos quais seriam os estilos de fontes utilizados no livro, eu as busquei nas fundições recomendadas pela autora e depois no Google Fonts. Construí uma matriz para cada estilo, lembrando que a preferência é por fontes nacionais e latinas.

Olhando o catálogo das fundições brasileiras encontrei 27 projetos nacionais de interesse e mais 20 no Google Fonts, com um total de 47 famílias tipográficas. Se não fosse pelo comprometimento com a aplicação da matriz, eu não olharia tantas fontes. Muito provavelmente eu escolheria as que já uso, então, me comprometer com a matriz, mesmo já conhecendo boas fontes para cada estilo, me ajudou a olhar para mais projetos e estudar mais sobre classificação, anatomia e produção tipográfica. Atribuí os pesos para os critérios.

  • Legibilidade – peso 5: é um critério muito importante para a experiência de leitura do livro.
  • Variações e recursos – peso 3: é necessário ter os pesos regular, itálico, bold e bold itálico, mas isso é critério eliminatório (só foram selecionadas famílias que possuem essas variações). Coloquei peso 3 para beneficiar fontes que tenham mais variações, sem prejudicar as que se limitam aos pesos principais.
  • História e cultura – peso 5: reconhecendo a perspectiva da Série Pesquisa em Tipografia, que visa aprofundar o modo como entendemos a tipografia e a vontade de expandir o olhar tipográfico para além de formas visuais, o histórico da fonte, como quem fez, onde foi feita e para que foi feita, é muito importante.
  • Expressão – peso 4: o assunto do livro pede que as fontes sejam vistas, então as características visuais delas são um aspecto muito importante, mas não mais do que a História ou a Legibilidade.
  • Qualidade – peso 3: a consistência do desenho e a uniformidade no conjunto das letras é importante, mas, como as fontes escolhidas vêm de fundições renomadas, esse aspecto está sanado, ainda que considerações possam ser feitas.
  • Suporte – peso 3: o livro será impresso em impressora digital em papel offset. Então é interessante que as fontes serem projetadas para o meio impresso, mas não é um fator excludente, pois é possível e desejável experimentações tipográficas, como o uso de uma fonte feita para o meio digital no meio impresso.
  • Licenciamento e Investimento – peso 0: usaremos muitas fontes diferentes e não temos muito recurso para comprar tantas tipografias, então vamos usar fontes livres e/ou fornecidas pelas fundições. Por ser uma obra sobre tipografia, as fundições podem se interessar em ceder fontes para compor o livro, cientes de que as pessoas que vão ler a obra procurarão fontes para usar, sendo então o livro uma vitrine. Juntando a nossa busca por diferentes estilos com a possibilidade de conseguir as fontes gratuitamente, eu zerei esse critério, pois, se não for possível usar fontes pagas cedidas, vamos usar fontes gratuitas.

Antes de começar a avaliar as tipografias para dar as notas na matriz, reduzi a quantidade de fontes. Deixei 2 nacionais e 2 gratuitas para cada estilo, diminuindo o número de fontes para avaliar de 47 para 28. Meus critérios para excluir ou não levaram em conta alguns fatores. O suporte para o qual elas foram feitas, digital ou impresso. Se são fontes criadas por organizações europeias ou não, buscando dar destaque para fundições não europeias. Também observei o contexto de produção, como fontes feitas para empresas ou para pesquisas acadêmicas.

Diminui o peso História e Cultura, de 5 para 4, no estilo de fonte Sem Serifa Condensada, pois nesse caso a Legibilidade é mais importante, visto que será usada principalmente como tipografia de apoio em legendas, coluna lateral ou situações em que a leiturabilidade é mais comprometida.

Avaliei as fontes, atribuí as notas e cheguei nas pontuações. Busquei a criação de um bom conjunto de fontes para o livro, não apenas a escolha das melhores fontes isoladas do seu uso na peça gráfica, então, para decidir quais serião as fontes do livro, eu optei por fontes de diferentes fundições, dando visibilidade a mais produtores brasileiros do que se eu aceitasse apenas a ordem de pontuação.

Em alguns casos, a fonte que mais pontuou foi uma fonte paga, porém, como a mesma fundição foi a melhor em mais de uma categoria (Blackletra teve a maior pontuação nas categorias Geométrica, Slab e Contemporânea), optei por deixar a tipografia que teve maior pontuação dentro das fontes da mesma fundição (Blackletra – Silva Text). Também dei preferência à tipógrafos brasileiros, então selecionei a Lembra no lugar da Alegreya Sans para termos mais uma fundição nacional no livro, dessa forma criamos um conjunto diverso de produtores e usamos as fontes mais bem pontuadas de cada fundição. Isso levou a não usar a fonte com maior pontuação na categoria, para aumentar a diversidade de fundições.

EstiloFonteFundição
Sem Serifa CondensadaAsap CondensedOmnibus-Type
Sem Serifa GeométricaMontserratJulieta Ulanovsky
Sem Serifa HumanistaLembraFabio Haag
Sem Serifa TransicionalNd Type Onenotdef type
Com Serifa SlabBommer Slab RoundeddooType
Com Serifa ContemporâneaSilva TextBlackletra
Com Serifa TransicionalGaribaldHarbor Type

Com a matriz, eu me propus a buscar mais fontes do que o normal e vi muitos projetos, o que achei uma ótima prática de estudo de tipografia. Acabei não comparando muitas fontes em cada matriz, pois era necessário avaliar muitas matrizes ao mesmo tempo, sendo o tempo um fator limitante para a duração do processo de escolha. Olhei diversos catálogos e, como já me referi, encontrei 47 fontes de interesse, das quais escolhi 28 para avaliação e finalizei com 7 fontes, sendo cada uma em um estilo. Nesse processo de seleção, combinando a matriz com a perspectiva de criar um conjunto de fundições tipográficas para dar destaque à produção local, foi possível selecionar 7 fontes de 7 fundições diferentes, sendo 5 brasileiras e 2 argentinas.

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